
O ex-presidente Jair Bolsonaro teria guardado presentes recebidos enquanto estava na Presidência da República em uma fazenda de Nelson Piquet. O ex-piloto de Fórmula 1 e amigo do político tem uma propriedade no Lago Sul, em Brasília, uma das regiões mais valorizadas da capital federal. Entre os pertences estaria um terceiro de joias que teria ficado com Bolsonaro após o fim do mandato. As informações são do jornal O Estado de São Paulo.
De acordo com a publicação, o pacote com os presentes em ouro branco e diamantes também foi dado pela Arábia Saudita. O estojo inclui um relógio da marca Rolex - avaliado em R$ 364 mil - uma caneta da marca Chopard, abotoaduras, um anel e uma masbaha - um tipo de rosário árabe. O valor de todos os bens passa de R$ 500 mil. Já são três presentes dados ao ex-presidente pelo regime saudita.
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O primeiro estojo de joias, como também revelou o Estadão, era destinado à primeira-dama Michelle Bolsonaro O governo Bolsonaro tentou entrar ilegalmente no País com colar, anel, relógio e par de brincos de diamantes avaliados em R$ 16,5 milhões, mas a caixa com as joias foi apreendida pela Receita. O segundo presente - relógio, par de abotoaduras, caneta, anel e masbaha - todos da marca Chopard e avaliados em R$ 800 mil - foram devolvidos pela defesa de Bolsonaro ao poder público, por ordem do TCU (Tribunal de Contas da União).
A reportagem apurou que o último conjunto, diferentemente das outras duas caixas, foi recebido em mãos pelo próprio ex-presidente, quando esteve com sua comitiva em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riad, na Arábia Saudita, entre 28 e 30 de outubro de 2019.
VALOR
Como ocorreu com a segunda caixa, a terceira está entre os bens guardados na Fazenda Piquet. Para lá, Bolsonaro mandou joias, enquanto itens como cartas e livros foram despachados para o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional, no Rio. Esses pertences receberam o entendimento de que seriam do Estado brasileiro, ao passo que as joias foram tratadas como bens pessoais.
A propriedade de Piquet - escolhida para abrigar pertences que Bolsonaro não queria entregar para a União - recebeu dezenas de caixas. O material alocado na propriedade do amigo e apoiador do ex-presidente saiu pelas garagens privativas dos Palácios do Planalto e da Alvorada - este residência oficial da Presidência.
A data inicial para envio das caixas foi registrada no dia 7 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro começou a organizar a sua saída dos palácios, após a derrota na eleição para o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do pedido ter ocorrido nesta data, houve atraso na remessa, e os itens só seriam encaminhados à casa de Piquet no dia 20 de dezembro, uma terça-feira, às 9h.
Faltavam apenas 11 dias para o fim do mandato de Bolsonaro. Na semana seguinte, o presidente mandaria um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) ao Aeroporto de Guarulhos, para tentar resgatar a caixa de joias com diamantes para Michelle apreendidas pela Receita, como seu próprio ministro Bento Albuquerque afirmou ao Estadão.
A reportagem procurou Piquet para questioná-lo sobre os motivos de guardar, em sua propriedade, os bens que Bolsonaro alega que são dele, apesar deste entendimento contrariar a lei e o que determinou o TCU em 2016. Não houve resposta. Piquet é um cabo eleitoral ativo de Bolsonaro.
Em novembro do ano passado, um mês antes de alocar os presentes do então presidente, o ex-piloto brasileiro participou das manifestações contra a derrota Bolsonaro. O tricampeão de F1 chegou a fazer uma doação de R$ 501 mil para a campanha de Bolsonaro, em agosto de 2022.
Na semana passada, Piquet foi condenado a pagar uma indenização de R$ 5 milhões por falas racistas e homofóbicas dirigidas ao piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, da Mercedes, durante entrevista a um canal do YouTube. Cabe recurso.
NA MIRA
O terceiro estojo entrou na mira de parlamentares, que procuraram o TCU para cobrar que Bolsonaro entregue o conjunto. Parlamentares do PSOL pediram o confisco das joias. "Solicitamos que este Tribunal adote as medidas cabíveis para restituição dos bens ora citados e a eventual responsabilização do ex-presidente Jair Bolsonaro", diz o pedido de duas congressistas do partido.
A defesa de Bolsonaro já chegou a sustentar a tese de que os presentes seriam bens pessoais e que poderiam ser incorporados ao acervo privado. Ao se manifestar sobre os presentes, o advogado do ex-presidente Bolsonaro, Frederick Wassef, declarou que Bolsonaro, "agindo dentro da lei, declarou oficialmente, os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens, não existindo qualquer irregularidade em suas condutas". Procurada, a defesa do ex-presidente não respondeu sobre a terceira caixa.
Bolsonaro disse que deve voltar ao Brasil amanhã, às 7h30, para "trabalhar com o Partido Liberal" e "fazer política". A expectativa é que preste esclarecimentos sobre as joias que recebeu irregularmente e as que tentou receber. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam o caso. (Com informações do jornal O Estado de São Paulo)
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