Até o inicio dos anos 90, com a abertura das importações, a marca Citroën era muito pouco conhecida no Brasil. Com um trabalho muito bem feito pelo então importador, a marca foi ganhando presença e chegou a figurar entre as mais vendidas.
Na Europa, a centenária Citroën sempre foi uma marca muito importante e com reconhecido valor em termos de tecnologia, design arrojado e modernidade. Alguns modelos viraram verdadeiras referências em suas épocas.
A suspensão, simplicidade e valentia do 2 CV. Do DS, apelidado de boca de sapo, além da suspensão a ar, o espaço interno e conforto. Sem duvida, foram alguns dos modelos à frente dos concorrentes. Independente da época, a tradicional marca francesa foi revolucionando ao longo dos anos.
Outro modelo revolucionário foi o Citroën Traction Avant dos anos 30. O modelo que virou um sucesso de vendas foi o primeiro modelo monobloco e tração dianteira.
Concebido num tempo em que os conceitos automobilísticos se estabeleciam, o modelo mais ambicioso e fruto da imaginação de André Citroën veio e subverteu a realidade automotiva. Tanto por isso, foi amado por políticos, artistas, poetas e empresários durante seus 23 anos de vida.
Apresentado em abril e lançado em maio de 1934, antecipou o padrão motriz dos carros do futuro ao unir tração dianteira e carroceria monobloco e levar a combinação à larga escala. Desenvolvido por André Lefèbvre e Maurice Sainturat em apenas 18 meses, resumiu as aspirações de uma elite intelectual como nenhum automóvel de sua era.
Sofisticado, audacioso, elegante, transgressor e prolífico, também era um fiel e impecável tradutor do etos da Citroën, oxigenada desde o nascimento pelo desafio ao impossível.
Equipado com um motor de 1.303 cm3 e 32 cv, a versão 7A é uma das mais raras, pois soma 7.000 unidades fabricadas até julho de 1934. Depois vieram os modelos 7B (1.628 cm3 e 38 cv) e 7 Sport ( 1.910 cm3 e 48 cv).
Os números se referiam ao sistema europeu de taxação de impostos, baseado na dimensão dos cilindros. Era possível escolher entre as carrocerias Berline (sedã), Faux Cabriolet (conversível) e Roadster (conversível de dois lugares).
Em 1938 chegava a versão 15-Six G, dotada de motor seis-cilindros de 2.867 cm³ e 77 cv e suspensão hidropneumática, que misturava gás e fluído.
Não surpreende o apelido "Queen of the Road", a rainha da estrada, cuja missão é entregar não apenas vanguardismo e imponência aos olhos, mas também conforto e impavidez no rodar. A troca das três marchas do câmbio manual eram um balé, tal a vivacidade do movimento da mão direita.
O mais popular sem dúvida fora o 11. Das 759.123 unidades produzidas do Traction Avant, mais de 620 mil foram deste modelo, destacado pelas configurações Familiale (de nove lugares) e Coupé (cinco lugares).
Largo, o Traction Avant exigia perícia nas estreitas ruas europeias pré-guerra. A suspensão independente com barra de torção e o moderno sistema de direção recompensavam o desafio com um guiar vívido e inspirador. Mas, também sabia ser gentil: para facilitar a vida dos mecânicos, motor, câmbio, radiador, e suspensão dianteira eram acessíveis por um capô na longitudinal.
Desenhado por um escultor que jamais desenhara um carro, talvez por isso mesmo Flaminio Bertoni tenha sido a escolha perfeita para materializar a criatura vislumbrada por Citroën. Havia também a obsessão por forma e função, materializada nas maçanetas Art Deco, belas e práticas.
André Citroën e Traction Avant, contudo, conviveram por pouco tempo, pois o fundador da marca faleceu em 1935, mas o DNA da Citroën, contudo, já estava definido. Em julho de 1957, após 23 anos, o Traction Avant se aposentava.